Saudosismo? Um pouco, mas não só. Através das lentes dos fotógrafos Leandro Souza e Aline Barbosa, imagens de Santos Dumont viraram cartões postais, resgatando uma tradição que ditou moda em tempos passados.

Embora a comunicação, atualmente na era digital, seja realizada em massa através de ligações, chamadas de vídeos e por mensagens instantâneas através de smartphones, a dupla resolveu “desacelerar” e propor um projeto de releitura que ganhou vida através de recursos da Lei Aldir Blanc estadual.

O projeto intitulado “Postei” é formado, nessa primeira etapa, por quatro cartões postais com fotos de pontos de Santos Dumont. No verso de cada um deles, há quatro linhas que chamam pelo cuidado e criatividade na hora de serem preenchidas.

A distribuição dos cartões postais acontece de forma gratuita, na Banca do Zezé, no centro da cidade. A fotógrafa Aline Barbosa conta detalhes do projeto.

“Quando começou a pandemia vi que estava sem a possibilidade de realizar os trabalhos que eu fazia antes da Covid-19. Comecei então a ter que descobrir um outro modo de explorar minha profissão. Eu sou uma pessoa saudosista… A intenção é realmente fazer uma releitura dos cartões postais com uma marca, um nome. Mas não só uma releitura dos cartões postais daqui de Santos Dumont, e sim fazer disso um projeto mesmo, uma proposta de trabalho, de propaganda. Que eu possa ir em outro município oferecer o projeto para o prefeito daquela cidade, que eu possa chegar numa empresa e oferecer uma propaganda cultural”, explica Aline. 

Ainda segundo a fotógrafa, “o cartão é diferente de um panfleto que você pega na rua e procura o primeiro lixo para jogar fora. O cartão postal é uma propaganda que as pessoas estão vão atrás dele e tratam com carinho. Então a ideia é englobar a proposta cultural, levar o nome da empresa e o nome do artista junto. É um combo!”, disse

As fotos e a parceria

Nessa primeira tiragem com 4 mil exemplares, circulam duas fotos de autoria da fotógrafa Aline Barbosa e outras duas do fotógrafo Leandro Souza, conhecido também por “Niquinho”. Com um acervo de milhares de fotos, acumuladas durante mais de 10 anos de experiência na área, o processo de escolha para inclusão no projeto não foi nada fácil.

“Foi dificílimo, tenho pelo menos quatro HDs cheios de fotos. A gente saiu de querer postar 20 postais para lançarmos, enfim, quatro imagens. O Niquinho mandou as fotos dele e eu fiz a escolha. Privilegiamos o clássico que é o Museu Cabangu; o distrito de Formoso que é um lugar que o turismo rural tem tudo pra crescer, então eu acho que tem mais é que ser divulgado; a terceira escolha foi Dores do Paraibuna que temos um afeto muito grande, ali pra mim é um sítio arqueológico; e por fim a Igreja matriz de São Sebastião por eu ser moradora do bairro e pela minha paixão pelos ipês rosas, que eu gostaria de incentivar as pessoas a olharem uma foto e se importarem com as árvores”, explicou Aline.

A fotógrafa também revela que a ideia de cartões postais vem de longe e envolve mais gente, quase um desejo coletivo antigo.

“O Photo Clube, Dumont em Foco, Gabriel Barroso eram pessoas e coletivos que quando eu cheguei em SD tinham essa ideia de fazer cartões postais, mas até então não foi pra frente. Quando surgiu essa oportunidade de entrar na lei estadual, resolvi colocar esse projeto em prática. É um projeto que a gente já vinha maquinando, havia um desejo antigo e agora finalmente conseguimos”, conta. 

Já a parceria com Niquinho extrapola até mesmo assuntos relacionados à fotografia e se consolida a cada dia. A ideia inicial da dupla era que o projeto “Postei” fosse apresentado ao público numa intervenção artística no centro da cidade.

“Niquinho é meu amigo de trocar confidências, não só fotografias. Quando fomos entrar com o Postei, a gente queria entrar com a ideia de um varal fotográfico, que já temos experiência e sabemos fazer. Mas por conta de pandemia, precisamos trocar”.

Banca do Zezé

Há mais de 30 anos na ativa, a Banca do Zezé é uma referência em santos Dumont não só para quem busca por leitura, mas para quem de alguma forma consome cultura em suas mais variadas formas. Aline Barbosa conta que não teve dúvidas ao ter que escolher um local para distribuição dos cartões, que não fosse a praça.

“A escolha pela banca é pelo papel cultural dele na cidade, sei que ele faz a distribuição de postais e é uma pessoa preocupada com o tema. Não teria outro lugar que une tradição e acessibilidade. O Zezé valoriza isso, está em ótima mãos”, afirma.

Já o próprio dono da banca, José Barbosa, o popular Zezé, de 58 anos, conta que sente prazer em participar e ajudar na divulgação de projetos culturais.

“Eu sou um vibrador e um entusiasta da cultura, cara. A nossa cidade tem um potencial muito grande, ela é rica de acervo e de pessoas que tem capacidade pra construir algo relevante aqui. Eu sei que apoio a gente sempre precisa, mas às vezes, o que falta é pegar e fazer por conta própria, senão não acontece”, conta o empresário, que distribui os cartões aos clientes da banca.

Aline aposta que a proximidade com o Natal 2021, a ideia dos cartões ganhe força entre as pessoas.

“Eu espero que por estar sendo lançado há pouco mais de um mês para o Natal, que eles – os cartões postais - virem um meio de comunicação e que as pessoas tenham a coragem de pegar, escrever e colocar no correio para alguém. É uma maneira pra gente trabalhar a valorização da fotografia. O cartão postal conta as histórias!”

Fotos: Simone Moreira           Peterson Escobar

Edição: Gláucia Rabello