Paraciclista de Santos Dumont vence 1ª etapa da Copa Rio de Ciclismo
Data de Publicação: 27 de abril de 2021 23:26:00 Falta de recurso e de apoio chegou a ameaçar participação do competidor na etapa do Rio de Janeiro
por Peterson Escobar - repórter
Início com o pé direito para Eduardo Querino Santana. O paraciclista, que fez sua estreia em uma competição profissional, rompeu as fronteiras estaduais e conquistou o lugar mais alto do pódio da primeira etapa da Copa Rio de Ciclismo 2021.
Embora seja natural de Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro, o paratleta de 39 anos representou Santos Dumont na categoria C5 e venceu a primeira de quatro etapas da Copa, realizada no Parque Radical de Deodoro, na capital do RJ, no último domingo (25).
Eduardo nasceu com uma deficiência no braço esquerdo, que o impede de esticá-lo totalmente e pegar peso. O rapaz concilia o pedal com o trabalho de servente de pedreiro e revela a surpresa das pessoas quando o veem trabalhando, mas desconhecem sua deficiência: "Se você me ver virar concreto, não acredita. O pessoal às vezes nem percebe que tenho a deficiência".
Atualmente, o paraciclista conta com o apoio e a assessoria à distância de Alex Diniz, atleta profissional que mora em São Paulo. Eduardo se preparou por pelo menos oito meses para a Copa Rio e revela que nada disso teria acontecido sem ajuda de outras pessoas.
"São oito meses de preparo. Treino seis vezes por semana e pedalo de 2h30 a 3h por dia, geralmente na BR-040. Às vezes, o treinador pede pra fazer um treinamento mais longo, aí eu vou em Juiz de Fora ou em Barbacena. Em JF, eu gasto 50 minutos até na Barreira do Triunfo. O Alex me dá todas as instruções para competir, aliado a isso tenho outros apoiadores que me ajudam com vestuário, manutenção e suplementos. Sozinho você não dá conta de tudo isso", conta Eduardo.
Falta de recurso ameaçou a participação do paraciclista na Copa
Eduardo conta que procurou a Prefeitura em busca de uma ajuda no seu transporte até o RJ para participar da prova. No entanto, na semana da competição, recebeu a notícia que a ajuda não seria mais possível.
"Quando chegou na segunda-feira - na semana da prova marcada para domingo - me comunicaram que não teria veículo pra me ajudar. Disseram que todos os carros estariam ocupados para fiscalização da Covid-19. Já que sairíamos às 1h, com prova marcada para 6h45. Eu entrei em desespero, foram oito meses de preparo, cheguei a cogitar ir pedalando pro RJ porque, se perdesse a primeira etapa, seria impedido de participar das próximas".
Diante do obstáculo, apoiadores se juntaram e fizeram uma "vaquinha" para arrecadar recursos e conseguiram o valor da passagem de volta além do lanche de Eduardo. "Na ida, por intermédio de uma pessoa próxima, consegui carona com uma transportadora. Aí como sou do RJ, fiquei em casa de parentes que me deram um suporte. Espero que para as próximas competições eu consiga uma ajuda da Prefeitura nessa parte", disse o paracilcista.
Superação faz parte da vida de Eduardo
Quem vê a felicidade e o sorriso no rosto de Eduardo ao erguer o troféu, se emociona. Principalmente, quando descobre que, para chegar até ali, o caminho do paracilcista foi lapidado com muita luta e superação para enfrentar as adversidades.
O rapaz começou a pedalar por lazer em 2006 ainda quando morava em Belo Horizonte. Já em 2011 ele se mudou para SD, porém teve a bicicleta furtada em frente a um banco da cidade. O fato o desanimou e o rapaz se afastou das estradas. Anos depois, um encontro mudaria sua vida.
"Um dia indo para o supermercado onde eu trabalhava fui abordado pelo Chico - um amigo de pedal - que me disse: vem cá rapaz, você anda de bicicleta? Você tem talento, precisa voltar a pedalar. O Chico e o Willian me incentivaram no início, me diziam que eu tinha potencial. Foi aí que eu comecei a correr atrás, comprei uma speed".
Apesar de ter dado os primeiros passos em direção a um patamar elevado no esporte, viver do pedal ainda é um sonho distante para o rapaz: "Esse é meu primeiro troféu, estou correndo atrás disso. Tem até bolsa do estado, mas precisa ter um tempo de competições, precisa ter um currículo para ser contemplado. Por enquanto estou roendo o osso pra, quem sabe no futuro, poder comer um pedaço de carne. Nada é fácil, não existe vitória sem luta".
Outro ponto de virada na vida do paratleta foi a entrada na Igreja, que, segundo ele próprio, o fez se libertar do caminho das drogas. "Hoje faço parte da igreja Assembleia de Deus. Fui dependente químico no passado e há quatro anos entrei para Igreja. Graças a Deus estou liberto disso. Quero mostrar pra todo mundo que Jesus salva", finalizou Eduardo.
O paratleta tem dois filhos, Carlos Eduardo, de oito anos, e Enzo, de três. Ele continua a preparação, dessa vez para o campeonato mineiro, onde vai competir nos dias 8 e 9 de maio em Santana do Deserto, além da Copa Brasil nos próximos meses.
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