Qdenga: quanto nova vacina da dengue protege, quem pode tomar e como será vacinação
Data de Publicação: 10 de janeiro de 2024 10:35:00 Brasil é primeiro país a incorporar vacina contra dengue no sistema público de saúde
Por BBC News...
A vacina contra a dengue conhecida como Qdenga foi incorporada no Programa Nacional de Imunizações (PNI) pelo Ministério da Saúde, e a previsão é que comece a ser oferecida a partir de fevereiro de forma gratuita. Com essa iniciativa, o Brasil se torna o primeiro país do mundo a oferecer o imunizante no sistema público de saúde.
Em clínicas privadas, a Qdenga também está disponível em países da União Europeia, Indonésia, Tailândia e Argentina. A vacina é fabricada pela farmacêutica Takeda Pharma e ainda não será oferecida em larga escala porque a empresa ainda possui uma capacidade restrita de fornecimento de doses.
Por isso, o início da vacinação será focado em público e regiões prioritárias. A escala é baseada na incidência de casos da doença, segundo o Ministério da Saúde. As doses poderão ser tomadas por pessoas de quatro a 60 anos, mesmo se a pessoa nunca teve dengue, o que é uma mudança importante em relação à última vacina aprovada pela Anvisa no Brasil, a Dengvaxia, que tinha como pré-requisito uma infecção prévia.
Qual é a proteção oferecida pela vacina
A vacina contém vírus vivos atenuados da dengue, que foram enfraquecidos de forma controlada. Essa técnica permite desencadear uma resposta imunológica eficaz sem causar a doença completa, possibilitando uma reação mais rápida do corpo em casos de exposição real à doença.
A vacina deve ser administrada em um esquema de duas doses, com intervalo de 3 meses. A dengue possui quatro sorotipos, e quando alguém é infectado por um deles, adquire imunidade contra aquele tipo específico, mas ainda fica suscetível aos demais.
Embora a empresa responsável pela vacina tenha divulgado uma eficácia global de 80%, esse percentual engloba os resultados de todos os sorotipos. Ao analisá-los individualmente, a eficácia do imunizante variou para cada sorotipo.
Passados 18 meses após a segunda dose, para o tipo 1, a taxa foi de 69,8%. Para a dengue 2, o melhor resultado, de 95,1%, e para o subtipo 3, o menos satisfatório, de 48,9%. Em relação ao subtipo 4, a Takeda afirmou à BBC News Brasil que a quantidade de casos testados não foi suficientemente alta para chegar a uma conclusão.
Felipe Naveca, pesquisador em saúde pública da Fiocruz, destaca que a eficácia reduzida contra o subtipo 3 e a ausência de dados para o subtipo 4 são desafios do imunizante administrado em um número elevado de pessoas.
Como pano de fundo, está a ressurgência de ambas as variantes da dengue no Brasil, após um período prolongado sem novos casos no país — 15 anos sem casos de dengue 3 e 5 anos sem casos de dengue 4.
"Temos uma parcela significativa da população com até 15 anos que não teve exposição principalmente à dengue 3, que apareceu pela última vez em 2008. Isso os torna suscetíveis à infecção por esse vírus", diz Naveca, que coordena laboratórios de arboviroses e viroses emergentes da Fiocruz.
Os sorotipos 3 e 4 não causam, necessariamente, quadros mais graves. Na dengue, a gravidade da doença está associada à infecção secundária — ou seja, uma pessoa que teve dengue pela primeira vez, seja por qualquer sorotipo, corre um risco maior de desenvolver uma forma mais severa ao ser infectada novamente.
Assim, para quem for se vacinar, é importante considerar a proteção menor quando a infecção secundária for por dengue 3 ou 4. Apesar disso, o pesquisador reforça que a boa eficácia da nova vacina contra a dengue 1 e 2, e a possibilidade de ela reduzir os riscos de uma segunda infecção pela doença são pontos positivos, especialmente para populações que vivem em áreas endêmicas.
Quem pode se vacinar?
Embora os grupos mais vulneráveis aos casos graves e mortes por dengue sejam crianças pequenas e idosos, segundo a Anvisa, a Qdenga é indicada para quem tem mais de quatro anos e para adultos com até 60 anos, não há estudos para avaliar a eficácia e a segurança da vacina fora dessa faixa etária. Pode receber o imunizante quem já teve dengue e também quem nunca foi infectado.
No entanto, gestantes, lactantes e pessoas com alergia a algum dos componentes presentes no imunizante, quem tem o sistema imunológico comprometido ou alguma condição imunossupressora não podem ser vacinadas com a Qdenga.
Como será vacinação?
Dourados, no Mato Grosso do Sul, foi a primeira cidade brasileira a começar a vacinação em grande escala, iniciada na última quarta-feira (03). Essa oportunidade antecipada para o município ocorreu por meio de uma parceria entre a Secretaria de Saúde local e a Takeda, responsável pela fabricação da vacina.
Em outras partes do Brasil, o Ministério da Saúde planeja iniciar a vacinação a partir de fevereiro, com um calendário a ser divulgado em breve. No entanto, inicialmente, a imunização não será realizada em larga escala, sendo direcionada para públicos e regiões prioritárias.
Isso se deve ao fato de que a empresa Takeda comunicou que sua capacidade de fornecimento da vacina Qdenga é limitada. O laboratório já estabeleceu um cronograma de entrega das 5,082 milhões de doses previstas para 2024. O esquema vacinal será composto por duas doses, que devem ser aplicadas com intervalo de três meses uma da outra.
A distribuição das doses previstas pelo PNI, é:
- 460 mil doses em fevereiro
- 470 mil em março
- 1.650 milhão em maio e agosto
- 431 mil em setembro
- 421 mil em novembro
Foto: Divulgação
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