O que era pra ser o momento de comemoração e festa, acabou em briga e muita confusão. Após o apito final do jogo entre Renascer x Santa Cruz, na tarde desse domingo (16), pela decisão da Copa Cultura, o campo do Social virou palco de cenas lamentáveis envolvendo torcedores, atletas e Polícia Militar.

Com o empate em 0x0, o Tigre alcançou o segundo título de sua história na competição. No fim do jogo, a torcida do Renascer invadiu o campo para comemorar a conquista. Com muita gente no gramado e, em meio a provocações, focos de brigas surgiram no local.

O Portal 14B conversou com o Major Carlos Paiva, da 63ª Cia da PM, e teve acesso ao registro da ocorrência. De acordo com o documento, após o apito final, os jogadores das duas equipes iniciaram uma briga, seguida de invasão maciça da torcida do Renascer. Os militares não conseguiram evitar a invasão haja visto a pouca estatura do alambrado do campo e pelo fato de não haver policiais suficientes para cobrir toda sua extensão. 

Ainda conforme a PM, a torcida do Renascer, após a invasão ao gramado, encurralou os jogadores do Santa Cruz em um dos cantos do campo. Em seguida, houve invasão da torcida do time do Córrego do Ouro, iniciando uma briga generalizada, nas palavras dos policiais. 

"Já tínhamos ciência do histórico entre os dois times, fizemos reunião com os organizadores durante a semana, houve a precaução de fazer o planejamento adequado. Nós tínhamos uma quantidade boa de militares no campo, número considerado até acima da média normal de policiamento, mas não era suficiente para cobrir todo o alambrado e impedir as pessoas de invadirem", explicou o major. 

Uso de balas de borracha

Além dos policiais da 63ª Cia da PM de Santos Dumont, houve apoio de uma equipe de Barbacena. Durante a confusão no campo, torcedores procuraram a reportagem do Portal 14B para relatar o que eles consideraram uma "atuação desproporcional dos militares".

Em meio ao tumulto, crianças, mulheres e idosos que estavam no gramado e na arquibancada foram atingidos pelo efeito do gás de pimenta, que causa irritação nos olhos. Um torcedor com a camisa do Água Verde precisou ser acudido por torcedores de outros times, após se sentir mal.

"Cheio de criança comemorando e jogaram gás de pimenta nas pessoas, isso é um absurdo", disse uma torcedora com o filho.

Juliana Tiago, uma das lideranças da torcida do Renascer, comentou sobre a situação.

"A gente tem os nossos bordões, todo ano gritamos em um sentido figurado: nem a PM, nem a Civil. A Copa Cultura aconteceu aí com vários jogos, a segurança sempre conteve junto com o policiamento daqui. Eles escutaram a gente gritando nem a PM nem a Civil e disseram que depois do jogo iam fazer isso que fizeram. Qual é a necessidade disso? Criança, idoso, todo mundo veio comemorar e eles estragaram nossa festa. Com a conivência da organização que tocou o terror falando sobre a gente. Perdemos em 2017 e em 2018, não teve a menor confusão. Ganhamos em 2019 e também não teve confusão. Agora pra que isso? É inadmissível, eles já vieram pra cá com esse objetivo que era acabar com a nossa festa" disse.

A Polícia Militar justificou o uso de balas de borracha e spray de pimenta para dispersar a multidão e controlar a situação, já que a verbalização não foi suficiente.

"Diante do cenário no campo e com a PM em menor número, os militares em intenção de preservar vidas e desfazer a rixa, utilizaram-se de verbalização. Porém, ante a ineficiência, foram utilizados equipamento de menor potencial ofensivo como: munição de eslastômero (balas de borracha), gás de pimenta e bastão de madeira. Mesmo após intervenção policial, torcedores de ambas as equipes insistiram na briga, situação que ensejou algumas atuações pontuais. Um cidadão acabou preso pelos crimes de desobediência e resistência", informa o relato da ocorrência.

O Major Carlos Paiva ressaltou que os instrumentos foram utilizados de acordo com o que reza a cartilha da corporação, com disparos feitos na região dos membros inferiores e a uma distância segura.

Caso foi parar na delegacia

Na manhã de segunda-feira (17), Gabriel "Gago" foi até a delegacia registrar um boletim de ocorrência sobre a agressão sofrida. O atleta do Santa Cruz foi acompanhado de um dos diretores do clube e deu a sua versão da história. Segundo Gago, as agressões partiram de pessoas ligadas ao Renascer.  

"Eu estava na jogada do último lance do jogo e fui atrás da bola. O juiz apitou antes dela chegar em mim, aí fui tentar agarrá-la. Quando olhei para trás só vi gente do Renascer, não deu nem tempo de correr. Recebi um soco do diretor e um chute de um atleta, mas como estava caindo o chute não teve tanto efeito. Viemos aqui relatar essas agressões", comentou. 

Conforme torcedores do Santa Cruz, as agressões partiram da equipe adversária e a torcida do time do Córrego do Ouro só entrou em campo depois para se defender e proteger os jogadores que estavam encurralados.

O que diz a organização da Copa Cultura 

Além da Polícia Militar, uma equipe privada de segurança, contratada pela coordenação da Copa Cultura, atuou no local. Segundo Josué Faria, presidente do torneio, a diretoria aguarda o relatório oficial do árbitro para tomar alguma decisão.

"Jogo bom, arbitragem boa, bastante segurança, tinha tudo. Infelizmente, assim que o juiz apitou a torcida invadiu e não teve como conter. Não tem como afirmar nada agora, qualquer decisão sobre isso aqui hoje vai depender do relatório de arbitragem e das imagens. Vamos marcar uma reunião e a junta disciplinar vai decidir o que pode ser feito", disse.

Ainda segundo a diretoria, o relatório da arbitragem deve ser enviado nesta segunda-feira (17) e "as cenas vistas no campo domingo farão a Copa Cultura mudar em muitos sentidos".

Por conta da confusão, a PM proibiu qualquer tipo de premiação no gramado, após o jogo.

Fotos: Peterson Escobar / Isabella Sad / Gilberto Freire / Reprodução redes sociais