Na tarde dessa quarta-feira (12), familiares foram até o Fórum Desembargador Paulo Motta protestar por melhores condições para os detentos no presídio de Santos Dumont. O intuito do grupo, formado por cerca de 15 pessoas, era cobrar de autoridades ligadas à Justiça providências a respeito de supostos abusos cometidos dentro da unidade prisional, bem como direitos humanos relacionados aos presos. 

A manifestação partiu depois da confusão registrada no presídio de Santos Dumont na noite de terça-feira (11), em que pelo menos cinco custodiados foram levados para atendimento na rede pública de saúde. O Portal 14B mostrou que foi necessário a utilização de disparos de munição de menor potencial ofensivo, spray de pimenta e bombas de efeito moral para conter a situação. 

"O presídio de Santos Dumont não tem condição alguma de ter preso lá dentro, lá é totalmente desumano. Justiça não corre atrás de nada. (...) Tratam a gente como lixo, aqui tem mãe, esposa, filha que tem parente lá dentro. Os familiares estão aqui – no Fórum – pedindo socorro, eles - os detentos - estão lá dentro em condições precárias. Não tem um chuveiro decente pra eles tomarem banho, um frio desse é banho gelado, a comida não chega de forma decente para um ser humano comer, comida azeda, que nem cachorro come. Não tem roupa pro preso, colchão direito, cobertor nesse frio que está fazendo, aquilo lá não é lugar de recuperar ninguém, aquilo é uma máquina de fazer bandido, vagabundo, porque a Justiça deixou de lado, fora as perseguições que fazem, medicamento não repassam, não dão satisfação pra família. Cadê a Justiça, não vai fazer nada? Os presos são gentes, não são lixos. Familiares trabalham noite e dia pra eles tratarem nossos parentes igual lixo, são seres humanos. Do jeito que tá não dá pra continuar. Preso doente, preso com tuberculose, não tem médico, não tem assistência", desabafou Vanessa Mansur, que possui parentes no sistema prisional da cidade. 

Depois de algumas horas de espera, três representantes dos familiares foram escolhidas para um encontro com Sílvia Paiva de Souza Musse, Juíza de Direito da 1ª Vara Cível, Criminal e de Execuções Penais da Comarca de Santos Dumont. 

Segundo Josi Valéria de Araújo, mãe de um detento atingido por um dos disparos e participante da reunião,  a juíza informou que teve ciência da situação e solicitou uma lista dos detentos feridos no episódio. Além disso, Sílvia informou aos familiares que fará uma visita ao sistema prisional para verificar as condições da unidade e as acusações apontadas pelo grupo. 

Familiares relatam desrespeito durante visitas

Além da falta de condições adequadas aos presos, os familiares apontaram destrato dos agentes penitenciários com as visitas. Josi relatou um episódio em que uma mãe de preso, moradora de Congonhas-MG, teria tido os pertences furtados dentro da unidade prisional. 

"Ela saiu de Congonhas às 5h da manhã pra ver o filho dela. Aí eles - do presídio - não ligaram pra ela avisando que o cadastro dela não estava valendo. Quando ela chegou, eles não deixaram ela entrar, o dinheiro dela sumiu, ela teve que ficar na casa dos outros aqui de favor pra ir embora no outro dia, ela liga e não atendem os telefonemas dela. Ela nos pede ajuda" disse. 

Perguntada pela reportagem onde o dinheiro teria sumido, Josi respondeu: "sumiu dentro dos pertences que ficam na portaria, dentro da penitenciária, lá perto dos agentes. Não denunciamos porque os agentes xingam a gente, dizem 'quem mandou levar dinheiro e celular pra dentro do presídio'. Aí não fizemos ocorrência, e a culpa ainda cai em outras mães. Sabemos que não é nenhuma de nós, nós somos unidas, uma ajudando a outra. Queremos saber se o Ministério Público vai tomar alguma posição", disse.

Fotos: Peterson Escobar