Conheça a história de José Aires Gomes, o inconfidente de Santos Dumont
Portal 14B: Nascido na região que viria a se tornar a cidade de Santos Dumont, José foi um dos filhos mais novos de João Gomes e participou da conspiração para a criação de uma república, independente de Portugal, no sudeste do Brasil
Por Isabella Sad - Repórter
O dia 21 de abril é marcado pelo feriado nacional em homenagem à vida e à morte de José Joaquim da Silva Xavier, o Tiradentes. Ele liderou a Inconfidência Mineira, um dos primeiros movimentos organizados em território brasileiro para conquistar a independência do país em relação a Portugal. Tiradentes foi considerado, na época, um criminoso e acabou sendo enforcado e esquartejado em 21 de abril de 1792.
No entanto, o que nem todo mundo sabe é que a região em que hoje está localizada a cidade de Santos Dumont, também teve um representante nesta história.
José Aires Gomes, o inconfidente de Santos Dumont
José Aires Gomes é filho de João Gomes, que emprestou seu nome ao Arraial de João Gomes, que mais tarde passou a ser conhecido como Palmyra e, atualmente, recebe o nome de Santos Dumont. José Aires foi um dos inconfidentes liderados por Tiradentes.
De acordo com o historiador e professor Antonio Martins de Carvalho, como José Aires Gomes era um dos filhos mais novos de João Gomes, pela tradição, ele foi destinado à educação e formação de clérigo para ser padre, já que na época essa era uma forma de se conseguir status. Porém, José Aires Gomes não se adaptou ao seminário e acabou voltando para casa, onde começou a participar da administração dos bens da família e gerir os próprios negócios.
Mais tarde José Aires se casou com a filha de um importante coronel da região, proprietário da fazenda Borda do Campo, que deu origem a cidade de Barbacena. Com seu casamento, José Aires acabou herdando mais terras, no que hoje conhecemos como região da Zona da Mata e se tornou um grande fazendeiro influente, dono de muitas posses, devido às grandes terras sob seu comando.
Ainda segundo o historiador, José Aires inconformado com o tributo cobrado pelo governo português, começou a participar da conspiração que tinha como objetivo a possibilidade de ruptura com Portugal. Algum tempo depois, Joaquim Silveiro dos Reis que era um dos conspiradores, percebeu que a conjuração não vingaria e para poder resolver sua situação particular, acabou fazendo uma denúncia, delatando vários nomes de pessoas envolvidas com a conspiração. Entre os nomes delatados, constava o de José Aires Gomes.
O historiador conta que quando o inconfidente foi preso, ele ficou incomunicável por cerca de quatro anos, período que durou a investigação. Por fim, José Aires foi condenado à pena de morte, depois convertida para o degredo - expulsão da colônia - motivo pelo qual ele foi enviado para uma nova colônia portuguesa, localizada em Moçambique, na África, onde ele faleceu pouco tempo depois.
Os restos mortais do inconfidente, nascido na região de Santos Dumont, foram trazidos para o Brasil na década de 30 e estão no panteão do Museu da Inconfidência, na cidade de Ouro Preto, ao lado de outros 15 mártires da conjuração.
História pouco difundida
Para Antonio, a história de José Aires é pouco conhecida no município. "A gente tem uma pouca tradição de educação patrimonial de modo geral. A maior parte das pessoas conhece muito pouco porque foi pouco trabalhado", afirma.
O historiador afirma que falta um maior interesse e uma efetividade do poder público para chamar a atenção das pessoas em relação a essa e outras histórias da cidade.
"Se houvesse uma intencionalidade do poder público provocando as escolas, as instituições de ensinos ou até a própria imprensa, para que pudesse trabalhar mais a memória social, vinculada ao José Aires Gomes, as pessoas teriam a oportunidade de conhecer um pouco sobre a sua história. É o que chamamos de processo educação patrimonial, o primeiro movimento seria essa sensibilização do poder público, para que ele demandasse uma política de educação patrimonial, de forma que essas histórias antepassadas de Santos Dumont, que são várias, terem oportunidade de serem discutidas e conhecidas", completa Antonio.
Inconfidência Mineira
A Inconfidência Mineira ou Conjuração Mineira foi uma conspiração, ocorrida em 1789, articulada entre membros da elite política e econômica da capitania de Minas Gerais, que estavam revoltados com a tributação portuguesa sobre a região mineradora.
Inspirados no pensamento iluminista e na independência dos Estados Unidos, os inconfidentes pensaram na criação de uma República em parte do sudeste do Brasil separada de Portugal.
Obs: Matéria publicada em 21/04/2022