Especialistas indicam o uso de dipirona e paracetamol em caso de dengue
Portal 14B: Medicamentos atuam especificamente na regulação da temperatura e na redução da sensação de dor, sintomas comuns associados à infecção pela dengue e não interferem na coagulação sanguínea
Por G1 e BBC Brasil
Dipirona e paracetamol: os nomes desses remédios são conhecidos pela maioria dos brasileiros. São drogas de baixo custo amplamente utilizadas para o alívio da dor e a redução da febre há bastante tempo.
Mas o que pode ser surpresa para alguns é que esses medicamentos são um dos poucos indicados para o tratamento dos sintomas da dengue já que não interferem na coagulação do sangue, visto que, sangramentos (hemorragias) podem ser uma consequência dos casos graves da doença e alguns medicamentes devem ser evitados.
Por que dipirona e paracetamol amenizam os sintomas causados pela dengue?
A explicação é que ao contrário de medicamentos como nimesulida e ibuprofeno, que têm propriedades anti-inflamatórias (diminuem inflamações) e podem alterar a coagulação, a dipirona e o paracetamol atuam especificamente na regulação da temperatura e na redução da sensação de dor, sintomas comuns associados à infecção pela dengue.
"A dengue é uma doença viral que pode gerar quadros hemorrágicos, porque o vírus pode destruir as plaquetas e causar lesões em vasos sanguíneos. Portanto, o ibuprofeno e a nimesulida são contraindicados para o tratamento da dengue, por aumentar o risco de hemorragias", diz Marcelo Polacow, presidente do Conselho Regional de Farmácia de São Paulo (CRF-SP), em entrevista ao G1.
Assim, a dipirona e o paracetamol são considerados mais seguros e adequados para o tratamento dos sintomas da dengue, já que não interferem na coagulação do sangue.
"Esses medicamentos são os mais indicados por uma série de motivos, em especial pois, além de não aumentaram os riscos de sangramento, eles já têm sua eficácia e efeitos colaterais bastante conhecidos, quando o assunto é o tratamento de problemas simples e autolimitados", explica Roberto Canquerini, conselheiro Federal de Farmácia pelo Rio Grande do Sul.
Além disso, Canquerini ressalta que outra característica importante dessas drogas é à sua capacidade de interagir favoravelmente com outros remédios e o fato de não causarem dependência química ou psicológica em quem os utiliza.
"De forma resumida, eles atuam bem nos sintomas da dengue: febre e dor. E isso sem alterar a coagulação. Ou seja, baixando a febre diminuindo a dor sem o efeito colateral indesejável que é o sangramento", acrescenta Alvaro Pulchinelli, diretor Técnico na Toxicologia Forense e médico toxicologista do Grupo Fleury.
Riscos da automedicação
Não é demais repetir: em vez de se automedicar, é importante buscar a orientação de um profissional de saúde, como um médico ou farmacêutico. Eles podem avaliar os sintomas, realizar um diagnóstico adequado e prescrever o tratamento mais recomendado para a condição específica de cada paciente.
Pulchinelli lembra ainda que a automedicação é perigosa devido a possíveis resistências a medicamentos, pois algumas pessoas podem apresentar reações alérgicas a determinados componentes presentes nesses remédios. Assim, consultar um médico ajuda a evitar esses quadros mais graves.
E também é importante ressaltar que qualquer droga pode apresentar efeitos colaterais. No caso do paracetamol, por exemplo, um dos principais efeitos colaterais é a alteração hepática, especialmente em situações de uso excessivo ou de doses muito elevadas do medicamento.
Quais medicamentos não devem ser tomados em caso de dengue?
Em conversa com a BBC News Brasil, três infectologistas explicaram quais medicamentos não são indicados para tratar os sintomas da dengue, pois podem aumentar o risco de sangramento.
Aspirina e AAS
Essas medicações têm efeito analgésico e antitérmico por isso, ajudam no alívio de dores e da febre. No entanto, elas podem afetar a coagulação de pacientes com o vírus da dengue, o que leva ao aumento do risco de sangramentos e ao agravamento da doença.
Por isso, pacientes saudáveis que estejam com a doença ou com suspeita dela não devem fazer uso desses medicamentos. No entanto, há ressalvas para o caso de pacientes em tratamento de algum problema cardíaco, que precisam tomar aspirina periodicamente.
Pessoas que possuem doenças crônicas, que sofreram infarto ou tiveram trombose, e estão fazendo uso de medicamentos desse grupo para tratar o problema, ao suspeitarem que estão com dengue não devem interromper o tratamento por conta própria, pois pode agravar o problema cardíaco já existente. O recomendado é procurar um médico imediatamente para analisar o que deverá ser feito, como trocar o medicamento ou fazer o uso monitorado, explicou Mirian Dal Ben, infectologista do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.
Além da AAS e da aspirina, outros medicamentos que fazem parte desta categoria são os derivados do ácido acetilsalicílico, como diflunisal, salicilato de sódio e metilsalicilato.
Ibuprofeno e nimesulida
Medicamentos que integram a categoria chamada de anti-inflamatórios não esteroidais também aumentam as chances de sangramento e não devem ser usados no tratamento dos sintomas da dengue. Os mais conhecidos e usados são: indometacina, ibuprofeno, diclofenaco, piroxicam, naproxeno, nimesulida, sulfinpirazona, fenilbutazona e sulindac.
"Esses medicamentos prejudicam o funcionamento das plaquetas e, quando um paciente está com dengue, ele já tem as plaquetas afetadas pelo vírus. Sendo assim, ao fazer uso desses remédios, há um aumento no risco de sangramentos e ter a dengue hemorrágica", disse Paulo Abrão, médico e vice-presidente da Sociedade Paulista de Infectologia e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Prednisona e hidrocortisona
Medicamentos como prednisona, prednisolona, dexametasona e hidrocortisona são conhecidos como corticoides e também são contraindicados em caso de dengue ou de suspeita da doença. Assim como os anteriores, eles podem aumentar o risco hemorrágico da doença e agravar a situação do paciente.
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