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Lula compara ataques de Israel à Gaza ao ditador Hitler; Israel reage às palavras do presidente brasileiro

Lula compara ataques de Israel à Gaza ao ditador Hitler; Israel reage às palavras do presidente brasileiro

Data de Publicação: 18 de fevereiro de 2024 20:29:00 Após a fala do presidente, Hamas emitiu comunicado agradecendo declarações de Lula

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 Por O Globo... 

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva comparou neste domingo os ataques de Israel na Faixa de Gaza , que classificou como 'genocídio', às mortes no Holocausto , com o extermínio de judeus pelo governo nazista de Adolf Hitler na Alemanha.

— O que está acontecendo na Faixa Gaza não existe em nenhum outro momento histórico, aliás, existiu, quando Hitler resolveu matar os judeus — afirmou Lula.

As declarações foram feitas durante entrevista a jornalistas no hotel em que Lula está hospedado em Adis Abeba, a capital da Etiópia. O presidente, que retorna hoje ao Brasil, foi convidado para discursar, no último sábado, na sessão de abertura da cúpula da União Africana. Ele também teve reuniões bilaterais com líderes do continente e com o primeiro-ministro da Autoridade Palestina, Mohammad Shtayyeh. No encontro, ele criticou tanto Israel quanto o Hamas.

A Confederação Israelita do Brasil (Conib) repudiou as declarações de Lula. Para o Conib, trata-se de "distorção perversa da realidade" que "ofende a memória das vítimas do Holocausto e de seus descendentes". Procurado pelo GLOBO, o Itamaraty não comentou.

O presidente fez a declaração comparando o desastre humanitário em Gaza com o Holocausto no momento em que criticava países ricos que suspenderam o financiamento à agência da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Oriente Próximo (UNRWA, na sigla em inglês), após a denúncia do governo israelense de que funcionários do órgão haviam participado do ataque terrorista do Hamas a Israel em outubro do ano passado. No fim de janeiro, oito países — Austrália, Reino Unido, Canadá, Itália, Suíça, Holanda, Alemanha e Finlândia — se juntaram aos Estados Unidos na suspensão temporária do financiamento em um momento em que a falta de recursos aumenta no enclave. A UNRWA, por sua vez, anunciou que iria iniciar uma investigação e afastou "vários" acusados.

Quando eu vejo o mundo rico anunciar que está parando de dar contribuição para a questão humanitária aos palestinos, fico imaginando qual é o tamanho da consciência política dessa gente e qual o tamanho do coração solidário dessa gente que não está vendo que na Faixa de Gaza não está acontecendo uma guerra, mas um genocídio. Não é uma guerra entre soldados. É uma guerra entre um exército altamente preparado e mulheres e crianças. Se teve algum erro nessa instituição que recolhe dinheiro, apura-se quem errou, mas não suspenda a ajuda humanitária para um povo que está há décadas tentando construir o seu Estado — afirmou Lula, na coletiva de imprensa na Etiópia.

Lula anunciou também que o Brasil fará um "novo aporte de recursos" para a UNRWA, mas não detalhou valores:

— Não posso dizer quanto porque não é o presidente que decide, preciso ver quem dentro do governo cuida disso para saber quanto vai dar, mas também vamos defender na ONU a definição de um Estado palestino reconhecido definitivamente como pleno e soberano. É preciso parar de ser pequeno quando a gente tem que ser grande — afirmou.

No sábado, Lula afirmou em seu discurso na 37ª Cúpula da União Africana, que o momento é "propício" para se resgatar tradições humanistas e que isso, frisou, implica condenar as agressões dos dois lados no conflito entre Israel e Hamas. Lula também defendeu que o fim da guerra no Oriente Médio passa pela criação de um Estado Palestino "livre e soberano":

— Ser humanista hoje implica condenar os ataques perpetrados pelo Hamas contra civis israelenses e demandar a libertação imediata de todos os reféns. Ser humanista impõe igualmente o rechaço à resposta desproporcional de Israel, que vitimou quase 30 mil palestinos em Gaza, em sua ampla maioria, mulheres e crianças, e provocou o deslocamento forçado de mais de 80% da população. A solução para essa crise só será duradoura se avançarmos rapidamente na criação de um Estado Palestino livre e soberano, reconhecido como membro pleno das Nações Unidas.

Netanyahu: 'Lula cruzou linha vermelha e banalizou o Holocausto'

Após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ter comparado as mortes de palestinos em Gaza à matança de judeus na Alemanha nazista de Adolf Hitler, o governo de Israel anunciou, neste domingo, que iria repreender o embaixador brasileiro em Tel Aviv. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, disse que “as palavras do presidente do Brasil são vergonhosas e graves”. Do lado brasileiro, fontes diplomáticas ouvidas pelo GLOBO afirmaram que estão tomando pé da situação antes de se manifestarem, até para evitar que haja novos ruídos na já conturbada relação entre os dois países.

Representantes do governo do Oriente Médio afirmaram, em caráter reservado, que Israel ainda discute quais serão as ações adotadas em relação à fala de Lula, além do repúdio público. No X, Netanyahu escreveu: “Trata-se de banalizar o Holocausto e de tentar prejudicar o povo judeu e o direito de Israel se defender. Comparar Israel ao Holocausto nazista e a Hitler é cruzar uma linha vermelha. Israel luta pela sua defesa e pela garantia do seu futuro até à vitória completa, e faz isso ao mesmo tempo que defende o direito internacional”.

Na sequência, o primeiro-ministro disse ter decidido “convocar imediatamente o embaixador brasileiro em Israel para uma dura conversa de repreensão”. O ministro das Relações Exteriores de Israel, Israel Katz, escreveu: “As palavras do presidente do Brasil são vergonhosas e graves. Ordenei aos funcionários do meu gabinete que convoquem o embaixador do Brasil para uma repreensão amanhã (segunda-feira)”. Segundo o colunista Bernardo Mello Franco, do GLOBO, o embaixador Frederico Duque Estrada Meyer foi convocado para uma reunião nesta segunda-feira, na qual deve se limitar a ouvir as queixas e transmiti-las ao Itamaraty.

Oposição critica fala

Em Brasília, a oposição reagiu negativamente à fala de Lula. O deputado federal Kim Kataguiri (União-SP) apresentou uma moção de repúdio ao presidente, e o o deputado Rodrigo Valadares (União-SE) disse que as declarações são "desastrosas" e ofendem a memória dos sobreviventes do Holocausto. O senador Ciro Nogueira (PP-PI) afirmou no X (antigo Twitter) que é "vergonhoso" comparar a operação israelense em Gaza ao Holocausto, e pediu desculpas "ao mundo e a todos os judeus". O também senador Sérgio Moro (União-PR), disse no X queLula "mancha, mais uma vez, a imagem do Brasil no exterior".

Parlamentares apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro também fizeram críticas, como os deputados Alexandre Ramagem (PL-RJ), Carlos Jordy (PL-RJ) e Bia Kicis (PL-DF), e o senador e ex-ministro bolsonarista Ciro Nogueira (PP-PI). Ex-ministro do governo anterior e advogado do ex-presidente Bolsonaro, Fabio Wajngarten declarou no X que vai conversar com a bancada evangélica na Câmara para reagir à fala de Lula.

O ministro Andre Mendonça, do Supremo Tribunal Federal (STF), foi outro a criticar a posição adotada pelo Brasil em relação a Israel durante um culto evangélico na manhã deste domingo. Sem mencionar as declarações de Lula, o magistrado pregou equilíbrio à diplomacia brasileira. Citou, contudo, o endosso brasileiro à uma denúncia feita pela África do Sul à Corte de Haia na qual o país africano acusa os israelenses de "genocídio".

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