Vulcão Cumbre Vieja entra em erupção no Arquipélago das Canárias
Data de Publicação: 19 de setembro de 2021 11:32:00 Erupção é a primeira na Ilha de La Palma desde outubro de 1971. Vulcão nas Ilhas Canárias poderia provocar tsunami no Brasil, mas chances são remotas.
Por Agência Brasil
Nos últimos dias, intensificaram-se os sinais de atividade sísmica nas Canárias, comunidade autônoma espanhola, que levou à retirada de animais e de 40 pessoas com problemas de mobilidade. O vulcão entrou em erupção no início da tarde, pelas 15h15 horas locais (14h15 GMT). A ilha está sob alerta amarelo.
Várias imagens mostram uma coluna de fumaça sobre uma colina, e as redes sociais encheram-se de vídeos, com um deles a captar lava.
"A erupção começou na zona de Cebeza de Vaca, em El Paso", informou, em conta no Twitter, o governo local. As zonas mais próximas do vulcão começaram a ser evacuadas, apesar da zona onde a erupção está a ocorrer não ser habitada, confirmou o presidente das Canárias, Ángel Víctor Torres.
Os serviços de emergência estão de prevenção para a eventualidade de terem de evacuar cerca de 1 milhão de pessoas, alertaram as autoridades.
Nas 24 horas anteriores à erupção do Cumbre Vieja, um vulcão com 1.949 metros de altitude, a crise sísmica registrada ao longo da semana agravou-se, e a ilha foi sacudida por diversos abalos, o mais grave dos quais atingiu a magnitude de 3.8 às 11h16 deste domingo, hora local, a 10 quilômetros de profundidade.
Desde sábado (18),registraram-se mais de mil abalos, cinco dos quais de grau 3 ou superior, todos sentidos pela população, em sinal inequívoco de movimentos de magma, sucessivamente mais superficiais.
Um alerta de vigilância acrescida, de nível 2 em 4, tinha sido decretado quinta-feira (16), após a multiplicação de pequenos sismos sob o vulcão que "pode conhecer uma evolução muito rápida a curto prazo", preveniu no dia anterior o governo regional do arquipélago em comunicado.
A lava está sendo expelida através de uma fissura na encosta do vulcão, e a atividade sísmica mantém-se, fazendo temer que a erupção possa agravar-se.
Os avisos de vulcão seguem um nível de risco, subindo do verde para o amarelo, laranja e vermelho. O atual nível amarelo implica que os residentes das zonas de risco devem ficar preparados para ser evacuados. A eles foi também solicitado que relatem aos serviços de emergência quaisquer vestígios de gases, cinzas, mudanças no nível da água ou pequenos sismos.
A erupção deste domingo é a primeira em La Palma desde outubro de 1971, quando o vulcão Teneguia expeliu lava durante três semanas. La Palma, com 85 mil habitantes, é uma das oito ilhas do Arquipélago das Canárias. No seu ponto mais próximo com a África, dista 100 quilômetros do Marrocos.
As Canárias estão a 460 quilômetros da ilha da Madeira, em Portugal, e a 1.428 quilômetros da Ilha do Sal, em Cabo Verde.
Uma semana de avisos
O Cumbre Vieja de La Palma é um dos complexos vulcânicos mais ativos das ilhas Canárias, sendo o responsável por duas das três últimas erupções nas ilhas, do Vulcão San Juan (1949) e do Teneguía (1971).
O Instituto Geográfico Nacional e o Instituto Vulcanológico das Canárias registraram, desde 11 de setembro, um importante acumulado de milhares de pequenos sismos na periferia do Cumbre Vieja, com epicentros a mais de 20 quilômetros de profundidade que, progressivamente, foram ascendendo à superfície.
Hoje de manhã, as autoridades começaram a evacuar as pessoas com problemas de mobilidade nas localidades dos municípios de El Paso, Los Llanos de Aridane, Villa de Mazo e Fuencaliente.
Desde que há registros históricos -- desde a conquista das Canárias no século 15 -- La Palma foi cenário de sete das 16 erupções vulcânicas ocorridas no arquipélago.
Um sismo de magnitude 3,8 foi hoje registrado à superfície. O Comitê Científico do Plano de Prevenção de Riscos de Vulcões alertou que os sismos mais fortes "poderão também causar danos nos edifícios". "O comité dos especialistas científicos chamou ainda a atenção para a eventualidade de queda de rochas na costa sudoeste da ilha."
Geólogos espanhóis rastrearam na última semana a formação de um "enxame de terremotos" ao redor de La Palma. Um enxame de terremotos é um agrupamento de terremotos numa área durante um curto período e pode indicar a aproximação de uma erupção.
Antes de uma erupção vulcânica dá-se um aumento gradual da atividade sísmica que pode prolongar-se por um largo período.
Chances remotas
Para as atividades vulcânicas do Cumbre Vieja causarem impacto na costa brasileira seria necessário um grande colapso do vulcão. Se isso ocorresse, atingiria toda a costa brasileira, de norte a sul, bem como de outros países banhados pelo Oceano Atlântico. Essa possibilidade, no entanto, é considerada remota por especialistas.
Um estudo do pesquisador norte-americano George Pararas-Carayannis, presidente da Tsunami Society International, afirmou que esse tipo de colapso é “extremamente raro e nunca ocorreu na história registrada”. Além disso, ele afirmou que estudos recentes prevendo a geração de tsunamis a partir da erupção do Cumbre Vieja foram baseados em suposições incorretas.
Pararas-Carayannis acrescentou em seu estudo que uma “atenção e publicidade inapropriadas da mídia a tais resultados probabilísticos têm criado uma ansiedade desnecessária de que megatsunamis poderiam ser iminentes e devastar populações costeiras em localidades distantes da origem – nos oceanos Atlântico e Pacífico”.
Já o geólogo Mauro Gustavo Reese Filho, da Universidade Federal do Paraná, afirma em estudo que, ainda que as chances sejam remotas, a população costeira do Brasil deveria ser conscientizada. “Estudos mais recentes dizem que as chances de ocorrência são remotas e longínquas, no entanto, o estabelecimento de sistemas de alarme que possibilitam a evacuação de áreas é justificável quando se trata de vidas humanas”, afirmou Reese em seu trabalho, também citado pela Metsul Meteorologia.
O pesquisador brasileiro apontou a falta de cuidados preventivos na costa brasileira. Ele parte do princípio de que uma mera possibilidade de desastre já indica a necessidade de ações preliminares. “A possibilidade de ocorrência deste evento por si só deveria ser razão para a prevenção de todos os tipos de danos na costa brasileira, porém até o momento nada foi feito. A falta de informação é a principal causadora deste problema, pois inclusive no meio geológico muitas pessoas não sabem sobre tal fato”.
Fotos: Borja Soarez
Felipe Trueba/Agência Lusa
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