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Donos de bares e restaurantes reivindicam mais atenção ao setor em Santos Dumont

Donos de bares e restaurantes reivindicam mais atenção ao setor em Santos Dumont

Data de Publicação: 21 de junho de 2021 11:35:00 Empresários acreditam que estão sendo penalizados de forma injusta durante a pandemia e propõem medidas diferentes das que vem sendo aplicadas na cidade

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Por Peterson Escobar - Repórter 

Bares e restaurantes integram um dos setores econômicos mais afetados no Brasil durante a pandemia da Covid-19. O “abre e fecha” do comércio ao longo desse período de mais de um ano, invariavelmente, atinge esse segmento, que concentra a maioria de sua clientela à noite. O caminho para se reerguer financeiramente ainda parece tortuoso e inconstante.

O Portal 14B conversou essa semana com três donos de bares e restaurantes de Santos Dumont: Flávio Amaral, do Garage Steakhouse; Marco Guarino, do Umami; e o casal Felipe Maurmo e Heidy Kaldas, do Agridoce Bistrô. 

Eles foram unânimes em demonstrar a insatisfação na maneira que a Prefeitura vem lidando com o setor durante esse período. De acordo com os proprietários desses estabelecimentos, sempre que a cidade apresenta índices desfavoráveis em relação à Covid-19, os bares e restaurantes são os primeiros a serem penalizados, pagando uma conta que, no entendimento dos empresários, não é deles.

O grupo contabiliza prejuízos, demissões, reclama da falta de um diálogo eficiente com a Prefeitura e propõe medidas alternativas às que vem sendo adotadas nos âmbitos municipal e estadual. Abaixo você confere como foi a conversa com os empresários: 

Histórico de penalizações e dificuldades do setor

Marcos Guarino – Juntamente com as academias, pessoal de buffet, nós fomos muito prejudicados desde o início. No começo ainda recebemos uma ajuda do governo que ajudou a pagar o salário dos funcionários. Mas sempre tivemos o horário de funcionamento restringido. Tem gente que vive do dia, e os restaurantes têm que ser pensado como um todo. Mesmo aqueles que abrem para almoço, precisam da noite porque o aluguel é um só. O delivery é apenas 10% do nosso movimento presencial. As pessoas querem sair, confraternizar, mas isso foi tolido do público. Ok, entendemos que é uma pandemia. Só que a situação vem se arrastando desde março do ano passado e acreditamos que isso iria passar, as coisas chegaram até a melhorar no final de 2020. Contudo veio aquele fatídico decreto do dia 28 de dezembro, entre o natal e o ano novo, que ficamos fechados até o dia 6 de janeiro de 2021 e todo mundo já havia comprado e estocado mercadoria. 

É a causa e a consequência. A causa é a Prefeitura fazer os decretos dela para combater a pandemia, mas e a consequência? Quem pagou esses funcionários que ficaram parados? E os aluguéis? Depois veio março e abril que ficamos quarenta dias abrindo de 11h às 15h e de 18h às 22h. O delivery não paga as contas. Os insumos não baixaram, os aluguéis não baixaram. São situações que precisam ser expostas. 

Heidy Kaldas – Se eles acham que um restaurante consegue viver só com o delivery, por que não fazem a mesma coisa com um mercado? 

Marcos Guarino - Por que não se combate a pandemia de uma forma mais eficiente? As filas dos bancos dão voltas e voltas. Sem contar que o centro da cidade fica lotado de gente o dia inteiro. A gente fica meio sem saída, tudo que acontece em Santos Dumont faz-se um decreto que prejudica os restaurantes. Não leva-se em consideração outras atividades ao longo do dia como bancos e lotéricas, aglomerações particulares. 

Há também uma diferença de tratamento. Por que fecharam lojas que vendem flores e no mercado continuou vendendo flores? Mesma coisa com panelas e outros objetos. Não quero enfrentar ninguém, só quero bom senso de quem decide. O pessoal do comércio durante o dia está funcionando sem restrição. Isso é questão de sobrevivência, eles não estão enxergando isso. Se demorar mais seis meses, a quebradeira vai ser geral no nosso setor.

Qual é o motivo de fechar estabelecimentos que seguem tudo à risca que está no decreto? Santos Dumont vive da noite também, mas com responsabilidade. Se notarem irregularidades, que punam quem está errado. Generalizar e não ver as consequências disso, nos deixa preocupados. 

Proposta de horário de funcionamento

Marcos Guarino - Já pedimos uma liberação de horário até pelo menos 00h porque entendemos que quanto maior for a extensão de horário de atendimentos, menor será a aglomeração de pessoas. Aqui na cidade restringiram o horário para diminuir o número de casos, certo? Mas repare em um exemplo, esqueça os restaurantes por um momento, vamos aos mercados. Reduziram o funcionamento de 21h para 19h30 e o que acontece com todo mundo que sai do trabalho entre 18h e 19h? Correm todos para lá porque sabem que nada mais funciona depois, gerando o acúmulo de pessoas. É incoerente.

O José Geraldo – secretário de administração - disse em uma entrevista ao Portal 14B que a solução é a vacina, o resto são medidas paliativas. Mas qual o sentido de tomar uma medida dessa de fechar às 19h30 se causa mais aglomerações? Toma-se uma medida arbitrária, causa mais aglomeração e não resolve o problema que é diminuir o número de pessoas na rua.

Heidy Kaldas - O que é melhor: eu ter seis horas para atender 100 pessoas ou ter duas horas para atender essa mesma quantidade de gente? Esse é o problema, a restrição de horário contribui para a aglomeração. 

Há também uma peculiaridade no público de Santos Dumont. Ao contrário do público de Juiz de Fora que tem uma rotatividade em todos os horários, por exemplo, aqui começa a chegar gente nos estabelecimentos a partir das 21h. A gente faz vídeo, texto, arte tentando conscientizar em relação ao horário permitido, mas não tem jeito, muitas pessoas chegam cerca de 15 min antes do fechamento estabelecido pelo decreto e querem ser atendidas. 

Fiscalização intensificada

Heidy Kaldas – De forma alguma estamos negando em sermos fiscalizados. Diversas vezes fomos à Prefeitura e pedimos para nos fiscalizar. Ao invés de ficarem andando todos juntos em um carro, coloquem um fixo nos restaurantes. Mas eles não nos escutam. Fiscalizem mas deixem a gente trabalhar. 

Felipe Maurmo - Quero a fiscalização lá e, se possível, que nos auxilie. O cliente está em um momento de folga, muita das vezes não quer alguém lá na mesa dele pedindo que ele vá embora. Passamos por muitos desgastes como esses durante a pandemia. Se tivesse um fiscal lá orientando, seria até melhor, porque as pessoas respeitariam mais. Queremos ter eles como parceiros.

Diferença de público

Marcos Guarino - O tipo de público que frequenta os nossos estabelecimentos e alguns outros restaurantes da cidade não é o mesmo público que está na rua à noite causando problemas. O pessoal vem com sua família, esposa, marido, entra, consome, paga a conta e volta pra casa, ninguém fica em calçadão ou em praça. Não é esse tipo de público que dizem que fica andando sem máscara, andando de bicicleta, de skate, um outro pessoal que usa drogas.

Felipe Maurmo - O público que está na rua nem compra com a gente. Normalmente, compram bebidas em mercado ou padaria que é mais barato, mais viável para eles, e consomem na rua. Independentemente dos restaurantes estarem abertos ou não, pode reparar que após às 22h, a movimentação continua. 

Fluxo de pessoas à noite

Marcos Guarino - Se a gente imaginar aqui que 10 mil pessoas saiam de casa no dia. Quantas pessoas virão ao centro na parte da manhã, na parte da tarde e na parte da noite? Fatalmente, de manhã ou de tarde viriam cerca de 8 mil pessoas e à noite teríamos o menor fluxo de pessoas transitando, porque não tem mais banco funcionando, o mercado está fechado etc. Aí querem culpar o turno com o menor fluxo de pessoas como se fosse esse o culpado para os hospitais estarem cheios. 

Felipe Maurmo - E desse público que sai à noite, a parcela que consome nos nossos estabelecimentos é ainda menor porque há diferença com os que ficam na rua, como já dissemos.

Falta de trabalho em parceria com a Prefeitura e representatividade no Comitê de Enfrentamento à Covid-19

Felipe Maurmo - Quem toma as decisões faz a imposição e não apresenta esclarecimentos em cima disso. Da mesma forma que estamos aqui expondo nossa visão e propondo melhorias, gostaríamos que o comitê justificasse algumas medidas. Acho que deveria partir deles também uma vontade de trabalhar em conjunto. Vamos supor que liberem o funcionamento até mais tarde, beleza, vamos abordar mesas que eventualmente possam estar se exaltando, procurar trabalhar da melhor forma. 

Marcos Guarino - A gente aqui tá argumentando e gostaríamos que as decisões do comitê tivessem uma explicação. Quero um estudo que prove: pega Covid quem está no restaurante após às 22h, quem consome em copo de vidro. São medidas pouco eficazes. 

Não há a menor justificativa para eles fazerem o que estão fazendo com a gente e não nos dão a oportunidade de expor isso. Alguns dentro da Prefeitura e do comitê até entendem, mas não tem medida prática em relação a isso. É fácil você querer dar uma satisfação para a sociedade e apontar um culpado.

Heidy Kaldas – Tudo pra gente é importante. As vezes a gente percebe uma agilidade em fechar tudo quando vem decisão do estado, no outro dia já está em vigor. Quando é pra reabrir, deixam pra resolver outro dia, marca pra próxima semana e a gente perde o fim de semana de funcionamento. 

Marcos Guarino – Sobre o Comitê, nos sentimos representados pelo Sindicomércio e pela Associação Comercial, o problema é que eles dentro do Comitê também não são escutados.  As duas entidades tem direito a apenas um voto e são sempre voto vencido.

Impactos financeiros

Marcos Guarino - Em uma entrevista à Rádio Cultura, o prefeito Carlos Aberto de Azevedo (Cidadania) disse que a cidade estava ficando sem dinheiro. Vale a gente ressaltar que SD é uma cidade estritamente comercial, não temos grandes indústrias. De acordo com um levantamento da Associação Comercial, 70% da cidade depende do comércio. Em um município de quase 48 mil habitantes, estamos falando de mais de 32 mil pessoas que dependem diretamente do setor. 

Quando há impedimento de funcionar, estão tirando dinheiro das pessoas. Hoje basicamente a renda é pra pagar aluguel, despesas básicas e comprar comida, não sobra mais nada. Eu tinha 17 funcionários e agora estou com 10, que é o mínimo pra toca essa casa. Sem contar os extras, que em datas comemorativas você chamava cozinheiros, dois garçons pra atender melhor e tal. Isso acabou.  

Heidy Kaldas – Eu tinha 17 funcionários antes da pandemia, hoje tenho 5. Com a redução de funcionários, demoramos mais a atender, alguns clientes ficam insatisfeitos. Não consigo entregar um prato com menos de 1h porque tem lá 30, 40 pratos na fila e duas pessoas da cozinha para preparar, antes eram quatro. Gera uma reação em cadeia. 

Flávio Amaral – Eu tinha 11 funcionários e agora tenho seis.

Para além das demissões

Felipe Maurmo - Tivemos que encerrar nosso almoço, por exemplo. Tentamos um “a la carte”, um delivery mas não funcionou. Um dia tá aberto e outro não está. Às vezes mobilizamos todos os funcionários, abrimos o restaurante, fazemos a comida entra um casal. É um ramo que você tem que estar preparado para receber muitas pessoas, então muita coisa tem que estar pré-pronta, mas o movimento não justificou. 

Marcos Guarino - Com relação à perda de mercadoria, no início a gente perdeu muito mais. Agora a gente tá comprando estritamente o necessário. 

Flávio Amaral - No início foi complicado porque chegamos a perder de fato. Há um ano eu trabalhava com 12 opções de cerveja, hoje eu trabalho com quatro e mais duas artesanais. Porque eu não tenho cliente suficiente e não tem como manter três ou quatro freezer’s ligados sem saber o que eu vou receber.  Em relação ao prejuízo financeiro, se eu não vendesse o carro eu não sabia o que faria. Tanto é que que demiti a maioria dos funcionários e acertei com o dinheiro dessa venda. 
 Nós estamos girando com o dinheiro da semana há mais de um ano e meio. Não tem mais capital. Trabalha em um dia, não sabe se vai trabalhar no outro. Não dá pra planejar nada. 

Heidy Kaldas – Vou te dar o exemplo do Dia dos Namorados. Naquela semana, saiu o decreto dizendo que a gente não poderia funcionar. Ficamos na espera segunda, terça, quarta e quinta, realmente achamos que não ia ter volta. Não fiz pedido ao representante. Quando foi quinta à noite chegou a notícia que poderia abrir, saí comprando aqui e em Juiz de Fora por quase o dobro do preço que eu normalmente pago. Isso tudo pra poder funcionar naquele fim de semana. Tá bastante complicado. Com adendo de sexta-feira ter tido um movimento baixíssimo porque quase ninguém sabia que estávamos funcionando, parece que foram três mesas em um espaço de 60 disponíveis. No meu estabelecimento trabalho com 240 lâmpadas ligadas, só de esperar os clientes imagine o gasto.

O que esperar do futuro?

Marcos Guarino - A gente tem muita esperança na vacinação que é o que a gente acha que vai resolver. Estamos alimentando essa esperança a cada dia com o avanço das categorias. 

Felipe Maurmo - A gente olha lá pra fora do país e vê que as coisas estão andando, isso dá esperança pra gente aqui também. O problema é que a gente fica um pouco com o pé atrás porque no Brasil parece que há muita politicagem, o que atrapalha essa questão.

Flávio Amaral - Sinceramente, se vier uma nova parada de 15 dias, por exemplo, eu não sei se aguento, entro em colapso, vou ter que fechar. 

Marcos Guarino - Nós temos família e temos funcionários que dependem da gente. É uma situação muito triste você chegar para um funcionário e fazer igual a prefeitura falou “Tá fechado, quando abrir a gente chama vocês de novo”. Não é assim que fala com um pai, mãe de família que precisa comprar leite, carne pra levar pra dentro da sua casa. 

Reitero que nós estamos abertos a qualquer tipo de conversa seja com quem for, temos o interesse de seguir todos protocolos de ajudar. 

Heidy Kaldas - nossos negócios são de família. Nosso maior interesse é de que nenhum de nós adoeça, nenhum de nossos funcionários. A gente quer uma parceria com a Prefeitura. É uma situação de pandemia que não vai se resolver daqui uma ou duas semanas, a gente precisa sobreviver, a gente precisa trabalhar.

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