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"Galeria a céu aberto" começa com grafite de Igor Henrique no centro de Santos Dumont

"Galeria a céu aberto" começa com grafite de Igor Henrique no centro de Santos Dumont

Artistas contemplados com a Lei Aldir Blanc começam a colocar em prática suas produções pela cidade

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Por Peterson Escobar


Desde a sua série favorita, passando por um videoclipe na tela do celular, até os muros grafitados nas ruas... a arte, embora muitas vezes não seja palpável, segue viva e essencial na vida dos sandumonenses, mesmo em tempos pandêmicos. Os artistas contemplados com a Lei Aldir Blanc começaram a colocar em prática seus trabalhos e, na manhã desta quarta-feira (3), o grafiteiro Igor Henrique foi um dos primeiros a finalizar sua produção em Santos Dumont.


Skid, como o rapaz de 27 anos assina suas obras, optou por grafitar asas em um dos muros da entrada principal do Tangará Tênis Clube, no centro. "Hoje em dia no grafite esse uso de asas é bem comum porque é uma forma de interação. A minha intenção de trazer essa arte para SD é pelo fato de eu não ter visto nada parecido por aqui e também por ser o berço do inventor do avião. A relação das asas é bem direta", explicou.
Dois dias foram necessários para que o artista desse vida ao muro do clube, antes ignorado por quem passava pelo local. Igor entende que a arte urbana cumpre um papel imprescindível na democratização e no acesso desse conteúdo às classes mais populares.
"Eu entendo que arte urbana é fundamental. Galerias, museus, isso tudo tem sua relevância, mas a arte urbana tem o diferencial de ser uma galeria a céu aberto. Ela traz a arte pra perto das pessoas, cria a possibilidade de interação a qualquer momento. Às vezes, por questões econômicas e sociais as pessoas não tem acesso a um museu. Então na rua, sendo pública, a relação se torna híbrida, a arte pertence à rua e a população tem a sensação de pertencimento à arte".


Igor é um dos 85 artistas beneficiados em Santos Dumont com a Lei Aldir Blanc. Outras intervenções artísticas vão acontecer na cidade até o dia 30 de abril desse ano, data limite para entrega das obras.
Ao todo, segundo o Departamento Municipal de Cultura, a cidade recebeu um recurso do Governo Federal no valor de R$ 351.898,58, porém devido à falta de demanda, acabou utilizando parte do recurso - R$ 154.300,17 - ou seja, R$ 197.598,41 devem retornar aos cofres da união.
Renan Souza, chefe do Departamento Municipal de Cultura, falou sobre a importância da aplicação dos recursos da Lei Aldir Blanc: "Sem dúvida ela foi uma criação benéfica, embora muitas classes artísticas ainda estejam impedidas de trabalhar. Esses recursos captados pela Aldir Blanc, não devem salvar a vida de ninguém, mas acredito que vai dar um fôlego aos artistas nesse período".
Ainda segundo Renan, outras modalidades terão que ser apresentadas de forma online: "Nós estamos recebendo alguns trabalhos de dança, de música, de artesanato. Tem muita gente produzindo e finalizando seus trabalhos. Algumas modalidades como música e dança, nós vamos reverter em apresentações nas plataform
as digitais para que as pessoas conheçam os trabalhos desses artistas. Ainda não é o momento de apresentações públicas", explicou.

 

Trabalho em família


A veia artística da família se estende a João Vitor Nascimento, 24 anos, irmão de Igor Henrique. O caçula se enveredou pelo mundo das fotografias e acompanha o irmão em alguns trabalhos. "Embora a maioria das atividades sejam separadas, nós nos ajudamos. Às vezes, ele me dá dicas de locais para fotografar, outras vezes eu dou ideias e detalhes para algum grafite", diz João. A mãe, dona Selma do Nascimento Mendes, foi uma das grandes incentivadoras do filho mais novo na fotografia. "Minha mãe tinha aquelas câmeras antigas, aí desde pequeno eu fotografa tudo que via. Com o tempo, comecei a fazer fotos pelo celular. À medida que o pessoal foi me elogiando, me deu confiança pra focar nisso", conta João.
O fotógrafo também é um dos artistas beneficiados com a Lei Aldir Blanc e escolheu fotografar a Zona Rural sandumonense. "É uma área que eu sinto que não é tão explorada quando poderia. Não conhecia nenhum deles, fiz o trajeto pelos distritos e fui descobrindo, vendo as artes antigas e o estilo de vida diferente da cidade".


Perda da mãe, pandemia e fonte de renda alternativa


Naturais de Santos Dumont, os dois irmãos moraram no Rio de Janeiro por anos. No estado vizinho, foi onde Igor mergulhou de fato no universo do Grafite, ainda em 2014, e acumulou a experiência na área com trabalhos em Niterói, São Gonçalo, exposições em centros importantes como galerias no Centro Cultural Paschoal Carlos Magno (CCPCM), na Cidade das Artes no RJ e trabalhos para a Rede Globo.
No entanto, a perda da mãe forçou os sandumonenses a voltarem para a terra natal em 2019. Logo em seguida, veio a pandemia do novo coronavírus e o baque na vida pessoal se juntou às dificuldades econômicas do período.


"Eu continuei fazendo trabalho, por exemplo, dei algumas oficinas online. Mas a pandemia afetou diretamente trabalhos em eventos, murais, fachadas, todos precisaram ser paralisados. É uma época que temos que nos reinventar, trabalhar de maneira remota. Artista é isso no Brasil, sempre se adaptando e buscando novos horizontes", revela Igor.


Paralelamente ao grafite e à fotografia, os dois irmãos investem em uma pizzaria na cidade para complementarem a fonte de renda da família.
O trabalho de Igor pode ser acompanhado através do @skid.er
Já quem se interessou pelo trabalho de João Vitor Nascimento, pode acompanhá-lo pelo @realjvn_

 

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