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Harpia, uma das maiores aves de rapina do mundo, é fotografada em Minas Gerais

Harpia, uma das maiores aves de rapina do mundo, é fotografada em Minas Gerais

Data de Publicação: 1 de agosto de 2023 11:25:00 Último registro oficial do gavião-real na Mata Atlântica mineira foi em 1977; novas fotos alertam para necessidade de preservar área em que espécie ameaçada de extinção foi vista, no Vale do Jequitinhonha

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Por Nayara Zanetti - Tribuna de Minas

Há muitos anos, o consultor ambiental Oswald Rezende tem o hábito de fotografar aves. Ele já encontrou muitas espécies pelo caminho, mas não poderia imaginar que um dia iria registrar a presença de uma Harpia. Um mês atrás, Oswaldo estava ‘passarinhando’ – nome dado ao hobby de fotografar aves – ao lado de sua família em Almenara, nordeste de Minas Gerais, quando o sobrinho, de 8 anos, gritou: “olha o gavião!”. Em cima de uma árvore, há cerca de 20 metros de altura, estava uma das maiores aves de rapina do mundo. Emocionado com o raro encontro, o fotógrafo fez vários registros e publicou na plataforma Wikiaves, mostrando que ainda é possível ver a espécie na Mata Atlântica mineira.

“Foi um momento único. Acredito que não terei outra chance de ver a ave, já que sempre vou a campo fazer registros e essa foi a primeira vez que, não somente eu, mas o estado de Minas Gerais inteiro conseguiu visualizar a Harpia”, conta Oswaldo.

O registro logo chamou a atenção da equipe do Projeto Harpia, iniciativa criada em 1997 em Manaus e vinculada ao Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), que tem o objetivo de estudar e atuar na conservação de grandes águias brasileiras como o gavião-de-penacho (Spizaetus ornatus), o próprio gavião-real (Harpia harpyja) e o raro uiraçu-falso (Morphnus guianensis).

Em 2004, os pesquisadores começaram a atuar na Mata Atlântica após a descoberta de um ninho na Reserva Particular do Patrimônio Natural Estação Veracel, na Bahia. Mas só 26 anos depois da sua criação, o projeto chegou em Minas Gerais, desenvolvendo atividades no Parque Estadual do Rio Doce (Perd).

“Essa área desperta bastante interesse, já que está localizada na mesma bacia (Rio Doce) em que uma população de harpias é conhecida no complexo da Reserva Natural Vale (RNV) e Reserva Biológica (Rebio) de Sooretama. Como já houve um registro histórico da espécie em 1977 para o parque e, desde então, não houve mais notícias, a ideia do projeto é procurar a espécie e também estudar as outras águias que aqui ocorrem”, explica Henrique Mariano, biólogo e integrante do Projeto Harpia.

Mesmo gigante, ave é difícil de ser encontrada

Além do caráter ambiental do novo registro, o biólogo destaca que as fotos reforçam a importância da ciência cidadã no monitoramento de espécies ameaçadas. “A população é uma das grandes forças que auxiliam na conservação.” A curiosidade do sobrinho chamou a atenção de Oswaldo para a presença do gavião-real, que tem o comportamento muito discreto, de difícil identificação, mesmo sendo de grande porte. A Harpia tem cerca de um metro de comprimento, atinge até dois metros de envergadura e suas garras têm cerca de sete centímetros. As fêmeas podem ter cerca de 7,5 quilos, sendo considerada a maior e mais forte ave de rapina do país.

A espécie pode ser vista com mais facilidade na Amazônia, enquanto na Mata Atlântica e no Cerrado suas aparições são mais escassas, sendo considerada pelo estado de Minas Gerais como “criticamente em perigo”. “Registros de Harpia no estado de Minas Gerais sempre foram raros, a última ocorrência foi na região da Mata do Passarinho e, anteriormente a isso, um registro no município de Tapira, em uma área de cerrado”, informa o biólogo.

Um dos motivos que explicam o porquê de ser tão difícil encontrar uma harpia é a necessidade de o casal ter uma área de vida extensa. As maiores e mais altas árvores da floresta são as escolhidas para abrigar o ninho do gavião-real, que têm cerca de dois metros de diâmetro. Além disso, a reprodução da espécie é lenta. Se o ambiente estiver equilibrado, é criado apenas um filhote a cada três anos, e esse jovem só alcança a vida adulta com cinco anos.

Minas, terra de Harpia

A região em que o gavião-real foi fotografado é rodeada por matas e nascentes e abriga diversas espécies. Para Henrique, o animal atua como um indicador de qualidade da floresta. “Novos registros, sobretudo na Mata Atlântica, são muito importantes. Não é apenas um novo ponto no mapa, significa que a espécie ainda ocorre naquele local, há necessidade de investir e proteger a área.”

Próximo do local onde a ave foi avistada, a cerca de 50 quilômetros de distância, fica a sede da Reserva Biológica da Mata Escura, unidade de conservação federal que abrange os municípios do Jequitinhonha e Almenara. Oswaldo acredita que seria importante aproveitar a área para realizar um corredor ecológico ou outra medida ambiental para preservar essa espécie rara na região e outras que correm o risco de extinção.

De acordo com Henrique, a Harpia está ameaçada de extinção devido ao desmatamento das florestas, que retira as árvores dos ninhos e fragmenta o habitat, dificultando a sobrevivência das suas presas e também atrapalhando o deslocamento das aves na procura de alimento. Por isso, Oswaldo reforça a importância de preservar a área em que o registro foi feito, “ainda mais por ficar próxima a uma região de pecuária, onde o desflorestamento é recorrente, e muitos moradores também realizam caça de animais na mata”.

Caso alguém encontre um gavião grande de penacho, a recomendação do biólogo é tentar registrar, mesmo com o celular, e prestar atenção nas características da ave observada. Depois, as fotos podem ser enviadas para o Instagram do Projeto Harpia. Além disso, é recomendado não divulgar a localização para que as aves não sejam ameaçadas por caçadores.

 

Foto: Oswald Rezende

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