Português (Brasil)

Dia da Saudade: conheça a história de dois sandumonenses que decidiram morar fora do Brasil

Dia da Saudade: conheça a história de dois sandumonenses que decidiram morar fora do Brasil

Data de Publicação: 31 de janeiro de 2022 21:16:00 Cristiane Pleasant, nos EUA, e Felipe Ribeiro, em Portugal, lidam com a saudade de formas diferentes e compartilham histórias para além das fronteiras do Brasil

Compartilhe este conteúdo:

Por Peterson Escobar e Isabella Sad - Repórteres 

O destino une e separa. Mas quando a mudança é para longe, lidar com a saudade pode se tornar um desafio. Nesse domingo (30), é comemorado no Brasil o dia da saudade, e o Portal 14B traz a história de dois sandumonenses que optaram viver fora do país.

Cristiane Pleasant, nos Estados Unidos, e Felipe Ribeiro, em Portugal, hoje se dizem estabilizados em seus respectivos novos lares. No entanto, quando fizeram as malas e deixaram Santos Dumont, há três anos, não imaginavam que teriam que enfrentar uma pandemia longe de casa.

Dúvidas, escolhas e uma nova família 

Cristiane Pleasant tem 28 anos e mora em Dallas, nos Estados Unidos (EUA), há cerca de três anos. Desde então, a sandumonense não voltou ao Brasil ainda para poder rever sua família.  Cris, como gosta de ser chamada, deixou o país em 2019 com o intuito de correr atrás de seus sonhos, de ter uma vida melhor e proporcionar melhores condições aos familiares que ficaram no Brasil.

Em março de 2020, quando a Covid causou lockdown em todo o mundo, Cris tinha acabado de dar um passo adiante no relacionamento: ela foi convidada a morar junto com o então namorado.

Nessa época, Cristiane conta que estava em constante conflito consigo mesma, já que não sabia se era melhor voltar para o Brasil e enfrentar a pandemia com a sua família ou seguir seu sonho e ficar nos EUA, mesmo que isso significasse passar por um período difícil longe de casa.

A escolha no entanto, não coube mais a ela, já que o então presidente Donald Trump decidiu fechar as fronteiras dos EUA e impedir a entrada ou saída de quem quer que fosse.

Cris se viu em uma nova realidade, longe e sem poder cuidar de seus pais e amigos, sem controle sobre o que o vírus poderia causar e ao mesmo tempo começando uma nova jornada de casal, criando laços e firmando raízes em uma terra nova. 

A saudade, nesse tempo, teve de ser enfrentada através de frequentes chamadas de vídeo. Dessa maneira, ela pôde estar presente, de alguma forma, nos acontecimentos da família e vice-versa.

Com o tempo, o então namorado passou a ser marido, e o casal vive junto com a companhia do cachorro da nova família. Cris e o esposo completarão dois anos juntos em breve.

Quem ficou no Brasil, acompanhou o casamento da moça por uma transmissão ao vivo e testemunhou o novo capítulo na vida de Cristiane. A sandumonense conta que pretende voltar à terra natal ainda em 2022, matar a saudade da comida brasileira e apresentar o marido aos familiares e à cultura local.

Preconceito, desafios e convicção

Já Felipe Ribeiro, 28, sentiu que precisava de mais ação em sua vida e ares políticos diferentes. O atleta que pratica, dentre outros esportes, o slackline e o alpinismo, se formou em direito em terras brasileiras, mas decidiu que Portugal seria um destino melhor para viver. O sandumonense conta que, apesar da proximidade histórica entre os dois países e a facilidade no idioma, o período de adaptação não foi fácil.

“Vivo em Portugal há aproximadamente 3 anos, mas ainda me sinto em plano de expansão. O período de adaptação é forte, existe um preconceito muito grande contra os brasileiros. Mas como sou atleta de várias modalidades, eu ignoro, me posiciono e consigo dar a volta por cima. Acredito que hoje estou bem posicionado no cenário internacional”, conta.

Embora a busca por novos desafios estivesse no horizonte de Felipe, enfrentar uma pandemia definitivamente não estava nos planos do jovem. Foram quase 50 dias em casa e sem companhia.

“Viver essa pandemia em Portugal foi extremamente intenso, estive sozinho. Na primeira leva, eu fiquei trancado em casa por 48 dias, apenas fui duas vezes ao mercado por não saber o que estava acontecendo com o mundo e por respeito às recomendações emitidas. Foi e ainda é incrivelmente estranho, mas com o tempo as coisas estão sendo flexibilizadas. Tomei a vacina no tempo certo, já contraí Covid, porém não tive sintomas. Agradeço imensamente às vacinas por isso”. 

O estilo de vida adotado por Felipe já dificultava o acompanhamento dos noticiários brasileiros, mas a forma como parte da sociedade daqui lidou com a pandemia o afastou de vez das informações.

“Como estava sempre nas montanhas, eu nunca fui uma pessoa de consumir muito esse tipo de coisa e resolvi parar de observar de vez quando senti o negacionismo gigantesco da sociedade brasileira junto a esse atual governo. O Brasil é visto como piada aqui fora nessa questão”, afirma.

Embora ele diz sentir a falta de estar presencialmente com a vó, a internet facilitou o contato com o restante da família, que acontece de forma diária: “Quase não sinto a distância do pessoal por conta da presença online, todos estamos tocando nossas vidas e está tudo perfeitamente fluindo bem”, conta Felipe, que ressalta que deixou grandes amigos espalhados por todo o Brasil.

A saudade do jovem se expressa em particularidades como a falta da paçoca no açaí, o calor do povo brasileiro e, claro, a ausência presencial da mãe, de quem Felipe é muito próximo. No entanto, a ida a Portugal propiciou novas experiências à família, da qual o sandumonense se orgulha.

“Lidar com a saudade é um processo de maturidade junto com aceitação, aceitar que as coisas são como são e que não existe uma forma diferente de ser. Estou aqui com o impulso da minha mãe que sempre me apoiou e foi presente, portanto, está tudo certo. Ser esse braço no estrangeiro e poder proporcionar à minha família e amigos uma expansão territorial é o que eu posso dar como retorno. Minha mãe adora vir me visitar, sempre estamos nos divertindo e viajando muito quando ela está por perto”.  

Durante esses três anos fora, Felipe conta que já veio ao Brasil “recarregar as energias” e deixa um recado para os sandumonenses que pensam em se mudar para Portugal.

“Não é fácil, mas é possível. Preparem-se principalmente na questão psicológica, além de ter uma boa estrutura e planejamento por trás”.

 

Fotos: arquivo pessoal Cristiane / arquivo pessoal Felipe

Compartilhe este conteúdo:

  Seja o primeiro a comentar!

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Envie seu comentário preenchendo os campos abaixo

Nome
E-mail
Localização
Comentário