Reverência a quem fez história. Aos 102 anos, Dona Matilde é a única fundadora viva do GRES Unidos da Graminha e foi homenageada na noite dessa sexta-feira (21), em evento organizado pelo Coletivo Ponto do Samba de Santos Dumont.

Sentada na primeira fileira no Centro Cultural Paulo de Paula (CCPP), Dona Matilde assistiu ao curta "A Força Feminina do Samba", que leva como protagonista ela mesma. Sob aplausos, cumprimentos e muitos pedidos de fotos, a matriarca agradeceu a homenagem: "O ano que vem, se Deus quiser e permitir, estamos aí. Muito obrigado a vocês todos".

Phillipe "sete cordas", coordenador do Coletivo Ponto do Samba, falou sobre a importância de valorizar a velha guarda.

"É muito importante a gente destacar nossas raízes ligadas ao samba, seresta e também ao choro. O Ponto do Samba faz esses eventos a fim de que a sociedade sandumonense de novo se reintegre depois de as escolas de samba diminuírem suas ações. Esse movimento visa resgatar todas as pessoa pra gente se unir em prol do samba. O coletivo tem em sua premissa o resgate não só do samba, mas o valor da velha guarda, o valor das pessoas, foi muito importante fazermos esse evento pra destacar o valor da Dona Matilde, uma das grandes matriarcas do samba. As homenagens precisam ser feitas em vida", afirmou Phillipe.

Além da exibição do curta, o evento contou com exposição de fotografias, roda de conversa e apresentação artística. Juliana Garcia, coordenadora do projeto rodas de samba raiz,  fez questão de exaltar o papel da mulher no samba, quebrando estigmas criados ao longo dos anos.

"Nós resolvemos fazer esse evento justamente neste Março Lilás, dedicado às mulheres, e mostrar pro público que a mulher no samba não só tem aquele papel na avenida de sambar, desfilar, porque a mulher faz e transforma, tem sua autonomia, somos autoras, somos intérpretes, somos mulheres que vamos para o barracão, construímos, fazemos eventos. O papel da mulher é muito importante. Hoje com o coletivo Ponto do Samba conseguimos trazer bastante mulheres para a roda, mostrar que não precisamos estar separadas dos homens, a comunhão dos dois flui muito bem. Nesse evento de hoje, trouxemos uma das nossas matriarcas que é a dona Matilde, mulher negra, lutou e criou sua própria escola de samba, que todos respeitavam", comentou Juliana.

O público marcou presença no CCPP e pôde acompanhar também uma roda de samba com o Coletivo Ponto do Samba de Santos Dumont e as mulheres do Movimento Samba das Mulheres na Praça JF. 

"Nós participamos do Encontro Internacional das Mulheres na Roda de Samba que acontece em mais de 24 cidades do Brasil e em seis países, é um evento que só mulheres que cantam, tocam e produzem participam. Estou muito feliz aqui hoje porque as mulheres de Santos Dumont já estiveram lá em JF e estreitar esses laços e nos unir é muito legal. Ninguém faz nada sozinho, o samba é união, é roda, é quilombo", afirmou Andréa Melo, coordenadora do Movimento Samba das Mulheres na Praça JF. 

Fotos: Peterson Escobar