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Marcilia Queiroz, a voz do hino de Santos Dumont

Marcilia Queiroz, a voz do hino de Santos Dumont

Data de Publicação: 28 de julho de 2021 11:36:00 Aos 89 anos a sandumonense esbanja simpatia, disposição e tem muita história pra contar. Nessa terça-feira (27) ela interpretou o hino da cidade em um evento no bairro Quarto Depósito

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Por Peterson Escobar - Repórter

Passos curtos, com a ajuda de uma das netas, a procura quase instintiva por uma sombra e cumprimentos aos muitos conhecidos. Foi assim que Marcilia Queiroz, de 89 anos, chegou à Praça da Bíblia, no bairro Quarto Depósito, na tarde dessa terça-feira (27). A data é especial: aniversário de 132 anos de Santos Dumont, cidade que viu a cantora nascer e se tornar a intérprete de seu hino oficial.

Em meio à pandemia, a hoje moradora do bairro Graminha, abriu uma exceção e compareceu ao local por conta de um convite do músico e pastor Paulo de Sá. Logo depois da instalação da réplica do 14 Bis, veio o momento de Marcilia interpretar mais uma vez o hino que a consagrou.

"Eu sinto agradecida porque a melhor coisa do mundo é você ser lembrada, principalmente em vida. Então se lembrarem da minha pessoa eu tenho que agradecer muito", disse a cantora ao Portal 14B.

Foram cerca de dois minutos esbanjando talento e centralizando a atenção do público. Entre uma olhadela e outra no papel para se certificar da letra, Marcilia foi acompanhada pelos músicos Juninho de Sá (Violão) e Tiago Guimarães (Saxofone). "Normalmente venho acompanhada do Silte Henriques, que não pôde estar aqui hoje. Mas Juninho e Tiago são meninos de ouro, foi maravilhoso", disse.

De um jeito ou de outro, a música sempre fez parte da vida da sandumonense. Uma irmã toca violino, a outra acordeon e a mãe, segundo Marcília, cantarolava o dia inteiro em casa. Outra proximidade com a música veio do próprio emprego. Marcilia trabalhava como secretária na Rádio Cultura e atendia aos pedidos dos ouvintes que queriam participar do extinto programa "Lembrança Musical". Como estava próxima ao meio artístico, aos 18 anos, ela mesmo criou a oportunidade que precisava. 

"Tinha um conjunto da rádio que ensaiava durante o dia para o programa da noite. Eu ficava ouvindo, de vez em quando ia lá observar, até que um dia me convidaram pra cantar uma música. Mandaram eu experimentar, fui lá e cantei 'Segredo' da Dalva de Oliveira e depois voltei ao meu serviço. Horas depois, apareceram na minha sala e me falaram: 'você está na programação de logo mais'. Foi um espanto, mas assim que começou."

Convite e gravação do hino de Santos Dumont

O hino da cidade de Santos Dumont foi composto por Rotatori Hermindo, em 1963. Marcília diz ter tido contato, ainda pequena, com o compositor, mas conhece mesmo os demais familiares. A voz da sandumonense se eternizou na história do município com a interpretação gravada em 1991, em Belo Horizonte, a pedido do músico Toninho Faria. Quem conta é a própria Marcilia.

"Um dia desses de 1991 eu estava em casa com meu marido e tocou o interfone: era o Toninho Faria. Ele virou pra mim e falou: 'olha, eu estou com essa fita aqui e queria que você gravasse, é o hino da cidade. Você aprende?' Fiquei meio perplexa, mas topei. Quando ele foi saindo virou e disse: 'amanhã eu volto!' Eu assustei e respondi: amanhã?! Achei que ia ter uma semana pra me preparar."

Daquela informação em diante, foi uma correria. O pouco tempo para decorar a letra acabou envolvendo outros integrantes da família da cantora.

"Meu marido botou um colchão na varanda e se prontificou a tomar conta da nossa neta Luana, de dois anos na época. A gente tinha ganhado um rádio gravador recentemente e passei a tarde toda escutando a fita. No outro dia, o Toninho Faria ouviu a minha interpretação e comunicou que iríamos pra Belo Horizonte gravar. Segundo ele, já tinha tentado muita gente anteriormente, corais, cantores, mas nenhum foi do agrado dele. Toninho estava depositando a confiança em mim", revela.

O nervosismo de estar pela primeira vez em um estúdio profissional de gravação fez até com que Marcilia apelasse à alma do compositor Hermindo, que já havia falecido na época.

"Cheguei lá, pela primeira vez, e os rapazes me explicaram como que funcionava. Quando entrei no estúdio comecei a falar com o senhor Hermindo: ah, senhor Hermindo, não me deixe passar vergonha, gravando sem parar, me ajuda aí pra dar tudo certo". 

Por competência ou por ajuda do além, a gravação deu certo na primeira tentativa, que ainda era só uma experiência. Os funcionários da gravadora elogiaram a cantora sandumonense que, depois mais relaxada, pediu pra voltar à cabine pra ajustar um trecho que só ela não tinha gostado.

Momentos marcantes

Fã das cantoras Dalva de Oliveira e Ângela Maria, sucessos de outrora, Marcilia colecionou ao longo dos anos momentos que marcaram sua trajetória. Ainda no ano de 1991, sob a administração do prefeito de Santos Dumont, Dr. Pacífico Estites Rodrigues, o hino foi executado pela primeira vez no município em uma solenidade na Câmara dos Vereadores.    

"A minha emoção era tanta que quando o rapaz me entregou o microfone, nem reparei que estava desligado e comecei a cantar. No meio da música que me dei conta, mas o nervosismo era tão grande que não conseguia ligar o microfone e segui cantando no gogó", contou Marcilia, que regravou o hino em 1999.

Outra lembrança que a cantora faz questão de compartilhar é a ida às escolas para cantar o hino. Uma em particular, mais precisamente na Escola Estadual Dr. Vieira Braga, a marcou com carinho.

"Quando cheguei na escola, a diretora me colocou em uma sala, fiquei até preocupada achando que tinha acontecido alguma coisa errada. Lá de dentro escutei que havia começado aquele momento cívico e percebi todos os alunos cantando o hino, aí pensei: 'o que tô fazendo aqui? Não era eu quem ia cantar pra eles?'. Quando terminou, a diretora me buscou pela mão e se dirigiu aos alunos: 'conhecem? Essa aqui é a Marcília cantora do hino da cidade'. Naquele momento, as crianças começaram a se empolgar e gritar. Eu me senti lisonjeada, aí a diretora me pediu enfim pra cantar. Aquele olhar de admiração das crianças é inesquecível!"

Foto: Peterson Escobar

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